domingo, 25 de junho de 2017

Acidentes ofídicos


Introdução

Sem dúvida a evolução proporcionou grandes vantagens na cadeia alimentar dos animais que possui peçonha. Ter a capacidade de produzir e injetar veneno em sua vítima é uma excelente forma de defesa e de caça. Na nossa região amazônica, encontrar alguma serpente peçonhenta não é difícil, já que estamos localizados em uma das regiões mais ricas em biodiversidade. Escorpiões, aranhas, lagartas, serpentes, peixes, artrópodes, e até mesmo sapos, estão na lista dos animais causadores de acidentes com humanos. 

As estatísticas mostram que no Brasil ocorrem 28.812 casos por ano de acidentes ofídicos (Acidentes com serpentes), 60.370,8 com escorpiões (Escorpionismo) e 25.786,4 com aranhas.  Fonte: Acidentes com animais peçonhentos no Brasil por sexo e idade

Tais animais, não possui o ser humano como 'parte de seu cardápio', e os inconvenientes acontecidos dá-se simplesmente pelo fato de defesa. E como a maioria dos leitores do site cursam áreas da biologia, vamos dar um destaque na questão evolutiva e a seleção natural. Imagine um animal peçonhento, uma aranha ou serpente por exemplo, se ela não tivesse peçonha será mesmo que estes animais seriam bem sucedidos como são? A cobra por exemplo, ela não tem patas, garras ou chifres; ser datada de uma capacidade extra para capturar uma presa é uma vantagem evolutiva.

Acidentes ofídicos no Brasil e no Acre (Acidentes com cobras)

As cobras (Classe dos Répteis; Subordem Serpentes) são animais que causam fascínio e também medo entre as pessoas. (Bernarde, P. S.; 2014) 

Em nosso país, temos conhecimento de 385 espécies de serpentes (Bérnils & Costa 2012); destas 385, apenas 62 espécies são peçonhentas. Em número estatísticos, estamos nos referindo a aproximadamente 15% destes animais que possui peçonha (Venenosos).

O que é um animais peçonhento ou venenoso? 

Animais Peçonhentos são aqueles que possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes ocos, ou ferrões, ou aguilhões, por onde o veneno passa ativamente. Ex.: serpentes, aranhas, escorpiões, abelhas, arraias.
Animais Venenosos são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho inoculador (dentes, ferrões) provocando envenenamento passivo por contato (taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu).

O nome certo é cobra ou serpente? 

Ambas estão corretas, são sinônimos. Porém, o termo mais utilizado é serpente. 

As serpentes, ferram, mordem ou picam? 

As serpentes não possui ferrões, logo elas não ferram. Mas, elas possuem dentes que podem variar o tipo de dentição de acordo com as espécies. São basicamente quatro tipo de dentições:
  • Dentição Áglifa: maxilar sem dentes, sulcados (ocos) para inocular veneno, podem ou não ter glândulas de veneno (glândula de Duvernoy), o máxilar é grande e pouco móvel. As cobras que possui este tipo de dentição, não são peçonhentas, e seu ataque é apenas traumatogênico; não tem complicações causado por veneno. Quem sofre acidente com animal desta dentição, ele foi mordido por cobra, e não picado. Um exemplo de cobra que possui essa dentição: Jiboia (Boa Constrictor
  • Dentição Opistóglifa: com colmilhos na região posterior do maxilar e dentes dentes não sulcados anteriores aos colmilhos, com glândulas de Duvernoy, maxilar pouco móvel. Esse tipo de dentição é perfeito para comer pequenos animais, como lesmas, artrópodes. Esse tipo de dentição não funciona muito bem com seres humanos, porém, isso não significa que o veneno não possa ser inoculado. As cobras que possuem este tipo de dentição são as falsas corais.
  • Dentição proteróglifa: com colmilhos profundamente sulcados na região anterior do maxilar. São dentes pequenos, e as cobras que possui este tipo de dentição são as corais verdadeiras. 
  • Dentição Solenóglifa: com colmilhos muito desenvolvido na região anterior do maxilar, perfeitamente canaliculados (Semelhante a uma agulha de injeção). Aqui estão as cobras mais peçonhentas de nosso país, Jararacas, Surucucu-Pico-de-Jaca, Cascavel.
A imagem abaixo ilustra as dentições mencionadas acima. 
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Identificação de serpentes peçonhentas (Fonte Herpetofauna)

 Existe uma confusão entre os leigos e em alguns livros no Brasil em relação ao reconhecimento das serpentes peçonhentas, devido o fato das informações sobre a distinção destas das não peçonhentas terem sido baseadas na fauna de serpentes da Europa. A aplicação de certas regras como pupila do olho (vertical ou redonda), escamas dorsais (carenadas ou lisas), forma da cabeça (triangular ou arredondada) e tamanho da cauda (se afila bruscamente ou se é longa) não são aplicáveis a ofiofauna brasileira devido a inúmeras exceções.
Para o reconhecimento de serpentes peçonhentas, observa-se se a mesma apresenta a fosseta loreal (Fig. 5), no caso dos viperídeos. A fosseta loreal é um pequeno orifício localizado lateralmente na cabeça entre o olho e a narina, com função de orientação térmica. Este órgão sensorial termorreceptor, permite que os viperídeos localizem suas presas pela detecção da temperatura das mesmas. Leia mais em: ACIDENTES OFÍDICOS

Não tente diferenciar uma coral verdadeira de uma falsa! 

Se tratando do Brasil, o número de espécies de serpentes é muito grande; principalmente na região Amazônica. Além disso, estamos rodeados por crendices populares que em muitos casos até atrapalham no atendimento médico. Algumas informações aprendidas nas escolas e difundidas nos livros relacionado as serpentes, trazem informações que podem confundir o leitor. Veja exemplos:

Posso diferenciar uma coral verdadeira pelas cores dos anéis? 

Não! A diferenciação se a coral é verdadeira ou não, deve ser feita apenas por um especialista experiente, pelo fato da grande variação que existem no Brasil. Evite contato com este animal para evitar um acidente; não há necessidade em mexer com este animal. Então, esqueça aquele macete de que pelas combinações de cores dá diferenciar. Veja a rica variedade de corais do Brasil.
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O que fazer ao ser picado? Quais os primeiros socorros? 

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Quais gêneros de serpentes que mais causam acidentes com humanos? 

Todas as fotos abaixo, foram tiradas do site HERPETOFAUNA

Acidente Botrópico. Gêneros Bothrops e Bothrocophias.

Jararaca-verde (Bothrops bilineata)
Cruzeira (Bothrops alternatus)
 Caissaca (Bothrops moojeni)  

Características do Acidente Botrópico: 

O acidente Botrópico é representado pelas Jararacas. Tem fosseta loreal, escamas nas extremidades da cauda, cor parda, vive em locais úmidos, além disso, é um animal extremamente agressivo. A principal ação do veneno é atividade proteolítica, coagulante, inflamatória e hemorrágica. A vítima pode morrer devido a insuficiência renal aguda, além disso, pode ter infecções secundárias caudadas pelas bactérias presentes. 

Características da picada independente do local

  • Picada dolorosa
  • Região avermelhada com edema e calor local.
  • Podem aparecer bolhas 
  • Dor de aumento progressivo
  • Necrose
  • Equimose

Sangue

  • Ocorre coagulação
  • Epistaxe (sangramento ou hemorragia nasal; hemorrinia)
  • Sangramento pela boca
  • Hematúria (Sangramento pelas vias urinárias)

Urina

  • Coloração avermelhada
  • Diminuição do volume urinário
A vítima deve procurar o atendimento médico o mais rápido possível 

 Características do acidente Crotálico. Gênero Crotalus

Causado pelas cascáveis; onde estão presentes em locais áridos e semiáridos no Nordeste, em campos abertos no Sul, Sudeste e Norte.  A principal ação do veneno é neurotóxica, miotóxica e coagulante.
Crotalus durissus

Características da picada independente do local

  • Picada dolorosa
  • Sem sinais da picada na região
  • Dor não intensa, porém persistente

Face e músculos

  • Face depressiva
  • Paralisia da musculatura dos olhos
  • Visão turva
  • Paralisia dos músculos atingido e do pescoço

Urina

  • Coloração avermelhada ou marrom
  •  Volume urinário normal

Outras complicações

  • Insuficiência respiratória, edema discreto, dor não muito forte, aumento do tempo de coagulação sanguínea, ptose palpebral. 


Características do acidente Laquético. Gênero Lachesis

Representada pela Surucucu-Pico-de-Jaca (Lachesis muta), a ação do veneno é bem intensa, tendo atividade proteolítica, hemorrágica, coagulante e neurotóxica.
Lachesis muta

Características da picada independente do local

  • Picada dolorosa
  • Região avermelhada com edema e calor local.
  • Podem aparecer bolhas 
  • Dor de aumento progressivo
  • Necrose
  • Equimose
  • Causa vômitos, náuseas, distúrbios digestivo,

Sangue

  • Ocorre coagulação
  • Epistaxe (sangramento ou hemorragia nasal; hemorrinia)
  • Sangramento pela boca
  • Hematúria (Sangramento pelas vias urinárias)

Urina

  • Coloração avermelhada
  • Diminuição do volume urinário

Características de acidente Elapídico. Gêneros: Micrurus e Leptomicrus

Coral-verdadeira(Micrurus lemniscatus)
São representadas pelas corais verdadeiras, e a atividade principal do veneno é a ação neurotóxica. Em casos graves pode ocorrer uma evolução para uma insuficiência respiratória, 

Características da picada independente do local

  • Picada menos dolorosa, mas com dor local
  • Região da picada fica menos adormecido
  • O membro todo pode ficar adormecido
  • Dificuldade em articular palavras
  • Dificuldade de deglutição
  • Face deprimida
  • Salivação grossa e excessiva

Soro como forma de tratamento dos acidentes ofídicos

Em nosso país, temos o sistema de tratamento contra os acidentes de cobra bem avançado. Se você for picado na Austrália por exemplo (onde as cobras tem efeito neurotóxico), você é quem paga pelo soro. O Instituto Butantan é exemplo mundial em produção de soros e na condução de estudos biológicos. Ele é o Instituo que produz os soros:

  • Soro antibotrópico: Gêneros Bothrops e Bothrocophias (Jararacas)
  • Soro antibotrópico-laquético: Gênero Bothrops e Lachesis (Jararaca e Surucucu-Pico-de Jaca)
  • Soro anticrotálico: Gênero Crotalus (Cascavéis) 
  • Soro antielapídico: Gênero Micrurus (Corais verdadeiras)
Os soros devem ser aplicados pelos profissionais da saúde, e, o uso é controlado. É IMPORTANTÍSSIMO QUE O DEVIDO RECONHECIMENTO DO GÊNERO DO ANIMAL CAUSADOR DO ACIDENTE SEJA IDENTIFICADO, PARA QUE O PROFISSIONAL DA SAÚDE TOME AS DEVIDAS PROVIDÊNCIAS. Por isso, ao ser picado, procure tirar fotos da cobra causadora do acidente. 

Videoteca

Alguns vídeos que recomendo que assista é:

Picada de Cobra - O que Fazer - (Butantan / Venenosa / Peçonhenta) 


Câmera Record - As cobras e os perigos da Amazônia (Completo) 05/04/2013 HD


Artigos científicos que recomendo a leitura:


PRINCIPAIS COMPOSTOS QUÍMICOS PRESENTE NOS VENENOS DE
COBRAS DOS GÊNEROS BOTHROPS E CROTALUS – UMA REVISÃO

LivroSerpentesBrasilEssa publicação tem base no livro "Serpentes peçonhentas e acidentes ofídicos no Brasil".

Referências:

Imagens: 
Bernarde, Paulo Sérgio / Serpentes peçonhetas e acidentes ofídicos no Brasil / Paulo Sérgio Bernarde. - São Paulo : Anolisbooks, 2014. 224 p.: il.

Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos. Brasília, 1998, 131p.il

Mota da Silva A 2015), Bernarde PS, Abreu LC. Accidents with poisonous animals in Brazil by age and sex. Journal of Human Growth and Development. 25(1): 54-62 Manuscript submitted May 08 2014, accepted for publication Oct 29 2014.

Animais Peçonhentos no Brasil: biologia, clínica  terapêutica dos acidentes / João Luiz Costa Cardoso... [et al.]. – 2.ed. – São Paulo : SARVIER, 2009.

Urgência e emergências para a enfermagem: do atendimento pré-hospitalar (APH) à sala de emergência / Nívea Cristina Moreira Santos. – 6. ed. Ver. E atual. – São Paulo: látria, 2010.


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